sábado, 15 de outubro de 2011

Pão-pão, Poesia-poesia

Por Maria Luiza Salomão, Psicanalista e Psicóloga

“Mera mudança não é
crescimento. Crescimento é a
síntese de mudança e
continuidade, e onde não há
continuidade não
há crescimento”
C. S. Lewis


Se a mudança, quando acontece, não tiver acompanhamento, é como plantar uma semente e abandoná-la na cova, sem outros cuidados. Se não regar, cuidar da evolução da plantinha, corre-se o risco de que ela estanque, e seque o seu verde broto. A semente precisa do sonho, do empenho, da devoção de quem o semeia.
Um filho é o sonho de um casal de pais. Quanto melhor sonhado é o filho pelos pais, mais espaços e tempos para que ele se desenvolva. Existem guardiões de sonhos, não existem “educadores de sonhos”. O que torna a tarefa delicada, complexa.
Lewis, assim li sua frase, vê a necessidade de continuidade naquilo que muda para haver crescimento de alma. Se a mudança é a erradicação de um vício, hábito novo, ou uma perspectiva que se abre, cada uma delas necessita de constância, de elos fortes com o existente a garantir que a mudança, a semente, tenha seu lugar e acresça, alongue, expanda, substancialize o lugar onde ela se aninhou.
Sonhar é um ofício solitário. Não falo do sonhar quando se dorme. Mas do sonhar quando se desperta para a vida e ela se abre florida, transcendente, infinita. O sonho quando nasce de um só sonhador inaugura a descontinuidade. É vital que, a ele, se unam outros sonhadores para instaurar o que, a princípio, parece estranho, alheio, apêndice.
Li o Chiachiri, certa vez, dizendo que não gostava de mudanças. Não estranhei. O professor dizia, em essência, que ser novidadeiro não acresce, não amadurece a alma. (assim o compreendi). Há necessidade de trabalhar a novidade, que se possa assimilá-la, incorporá-la ao patrimônio Cultural, Familiar, Afetivo, Pessoal. A mudança precisa se materializar em uma futura tradição. É a Tradição a base de qualquer Criação.
Não se cria nada do Nada. Mas sonhos inauguram um Tudo.
Nasce em Franca o Pão & Poesia, semente maravilhosa, plantada pela nossa poeta Perpétua Amorim, que sonhou este belo projeto de um poeta mineiro. Junto com ela, precisamos de sonhadores para fazer a semente crescer e se arvorar em alimento seguro: o pão d´alma.
Sonho de amor, amorim: envolver, carinhosamente, pães quentinhos com poemas também quentinhos. Entregar pão & poesia, mão em mão, coração a coração, perpetua-mente. Para que “se ponha em ata” o atado pelo afeto, precisamos de muitos sonhadores, prontos a sonhar junto, modo contínuo, o mais belo sonho!

Fonte: Comércio da Franca, 08/10/2011

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