quinta-feira, 29 de setembro de 2011


O MILAGRE DA MULTIPLICAÇÃO

Tomei conhecimento do Projeto Pão e Poesia em 2009, quando ganhei de presente algumas embalagens, as quais me acompanham durante todo esse tempo. Procurei entrar em contato com o poeta mineiro Diovani Mendonça, idealizador do projeto e grande “esparramador de poemas”, como se autodenomina, o qual prontamente deu-nos a permissão para plantar aqui em Franca um pouco das suas sementes. A partir daí, o nosso sonho de também esparramar poesias foi tomando consistência, ganhando parcerias e agregando pessoas com o mesmo ideal poético e literário.

Hoje entregamos a comunidade francana a nossa primeira edição do Projeto Pão e Poesia - Franca, graças ao incentivo da Bolsa Cultura, através da FEAC e a parceria com o Instituto Práxis de Educação e Cultura, conseguimos confeccionar 15 mil embalagens de pão, as quais serão distribuídas gratuitamente nas padarias de Franca. 

Agradecemos ao Diovani pela generosidade e assistência que nos tem prestado, a FEAC e ao Instituto Práxis pelo apoio, a artista plástica Maria Apª Motta, aos poetas Maria Luisa, Sonia Machiavelli, Walter Chimelo, Eduardo Nascimento, Cirlene de Pádua, Luis Cruz e Regina Bastianini, que embarcaram nessa viagem ao nosso lado. A minha parceira de sonhos Aretha Amorim Bellini, e todos que direta ou indiretamente contribuíram nessa primeira edição. 

 Até a próxima!

 Perpétua Amorim

TRANSUBSTANCIAÇÃO (Regina Helena Bastianini - POETA HOMENAGEADA)

É manhã
Do pão sobre a mesa
Evola o aroma dourado de trigais ao sol
Da brancura macia e aconchegante da massa
Flui o canto ceifeiro
Cansaço
Silêncio
Fazeres

É manhã
O pão sobre a mesa
Enche mesas
De  braços
Mãos
Terra
Grãos
E massa
E calor de fornos
E lavora almas tabuleiros
Canteiros de esperança

É manhã
O pão sobre a mesa
Rega as almas de suor
Realiza mais uma vez o milagre da humanização

E mais uma vez
Comungamos o feito do homem
E nos tornamos Homens.

Regina Helena Bastianini
In  Contraponto, página 99

Regina Helena Bastianini nasceu em Cristais Paulista em 25/10/1953. 
É professora de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira e autora de:
EU E O MUNDO(poesias), 1990;
ENTRENÓS (poesias), 2003;
CONTRAPONTO (poesias), 2006;
NO TEMPO DOS LAMBARIS SAGRADOS (crônicas), 2009.

NINHO DE PÉROLAS (Maria Luiza Lana Salomão)

Meu coração é ostra.
Entra nele areia, vira pérola,
solitário ourives.

Ninguém vê meu câncer íntimo,
enxerga jóia de cobiça.

Coração obreiro,
ressente da alegria
que outros têm
com a minha agonia.

VARAL (Sonia Machiavelli)

De repente a retina captura
o recorte destacado na paisagem
moirões tortos arames esticados
roupas coloridas pedaços estampados.

A farpa fere os fios dos tecidos
abre fundas fendas nas ramagens
mas das pregas  na memória fixadas
resgatam –se  antiquíssimas imagens.

Desdobrado o tempo conta histórias
refaz num triz o engomado instante
para em seguida esgarçar os trapos
da lembrança plissada ainda infante.

A alma faz patchwork disso tudo
Cose sendas sonhos fibras e verdades
Depois dita palavras escolhidas
Para entretecer o poema da saudade

GERAISLIDADE (Perpétua Amorim)


Na varanda um banquinho
à espera de alguém para  prosear
no forno de barro, pão quentinho
e  o café que acabou de passar.

É assim
em todas as casas
de todas as ruas
nas pequenas cidades
do meu interior.
“Eta vida bela, meu Deus!!”

CANTATA (Cirlene de Pádua Teixeira)

Palavras serenas
Em tardes amenas
De ti quero escutar.
Busca o teu
O meu olhar
Onde, amor?

Quando te vou encontrar?
..........................................
Rajadas de vento
Transformam em lamento
Meu doce sonhar

REVEZES (Eduardo de Paula Nascimento)

 “Mesmo dura a batalha, não se entregue
Que a esperança seja em ti renovada
E a paciência em seus braços o carregue
Toda vez que a pedra for atirada

Não tema a tormenta apenas navegue
Confie, tenha fé, lute e mais nada
Mesmo sofrendo quem luta consegue
Pois toda dor será recompensada

Na vida não há só luzes, há assombros
Não só amizade, sempre há desprezo
Mas por mais que alguém se sinta indefeso

E por mais duros que sejam os tombos
Nunca rogue por cruz de menor peso
Suplique por força para os seus ombros”

LIBERDADE (Walter Peres Chimello)

A velha
Passa na calçada,
Devagar,
Com a sacola na mão.
Vai andando,
Batendo nas  portas,
Pedindo uma ajuda.
No final do dia,
Cansada,
Capengando,
Chega em casa,
Um barraco,
Um cantinho seu,
Em bairro afastado.
Senta-se num banquinho,
Toma um café,
Acende um cachimbo,
Dá uma baforada
E um sorriso
De felicidade!

PECADO MORTAL (Luiz Cruz de Oliveira)

Não quebrei as tábuas de Moisés, nem adorei bezerros de ouro. 
E não mereço perdão, todavia: deixei cair do cavalo de pau o menino que em meu peito galopava.